Um Nobel para lembrar o Inverno nuclear

Como acontece quase sempre, a atribuição do Prémio Nobel da Paz desfaz todas as previsões e torna irrelevantes as “odds” das casas de apostas. Num ano de muitas guerras, o Comité Nobel norueguês resolveu lembrar que há uma guerra a que a civilização não sobreviverá, ao distinguir a  organização japonesa Nihon Hidankyo, fundada por sobreviventes dos ataques nucleares norte-americanos contra Hiroxima e Nagasáqui, durante a II Guerra Mundial.

Porque, como lembrou Joergen Watne Frydnes, o membro do Comité que anunciou o prémio deste ano, o tabu que os hibakusha, como também conhecidos os sobreviventes do único bombardeamento atómico da história, ajudaram a estabelecer contra o uso de armas nucleares está agora “sob pressão”.

Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética e a MAD (sigla em inglês para Destruição Mútua Assegurada) já ficaram para trás, mas o fantasma de um conflito nuclear voltou a aparecer após a invasão russa da Ucrânia. No mês passado, o Presidente russo, Vladimir Putin, expandiu os critérios para uma resposta nuclear russa a um ataque aéreo “maciço” de Estados não nucleares, a última de várias utilizações da cartada nuclear desde que o Ocidente decidiu defender a Ucrânia. Ao mesmo tempo, o arsenal nuclear da China não tem parado de crescer, assim como o de países como o Reino Unido, França, Índia e Paquistão, sem esquecer a Coreia do Norte.

Apesar das distrações, é bom que não esqueçamos que o Relógio do Apocalipse nunca esteve tão perto da meia-noite.